Casino Royale é um dos melhores reboots da história do cinema e o segundo melhor blockbuster da década passada. Isso numa década repleta de reboots e resets de franquias quer dizer muito.
A nova saga de James Bond é simplesmente perfeita a partir do primeiro frame de Casino Royale até a marca de 40 minutos de Quantum of Solace. Depois...
Sim, eu sou fã da série desde criança, mas eu gostava apenas dos filmes com Sean Connery (e os primeiros). Odiava o tom camper que a série adotou depois.
2005-2006 foi um biênio interessante para os blockbusters. Com filmes como Batman Begins, Bourne Supremacy, O Grande Truque e Os Infiltrados a concorrência teoricamente demoliria qualquer tentativa de se fazer um James Bond camper a la Roger Moore ou pior, Pierce Brosnan.
Ao invés disso os produtores tomaram a sabia decisão "atualizar o personagem", e embora isso tenha vindo com um custo, a escolha de Daniel Craig para o papel caiu como uma luva nessa nova roupagem.
Revendo Casino Royale este semana percebi as sutilezas que o fizeram se diferenciar dos filmes da sua época e - até mesmo! - dos bons Bonds de Connery. Desde a cena inicial, os famosos pré-créditos, em preto e branco (a frieza de um assassinato a sangue frio e a luta corporal mortal), até o humor típico do personagem:
- "você não é meu tipo"
- "inteligente?"
- "solteira"
O roteiro consegue fazer algo estapafúrdio como montar um torneio de pôquer para pagar dívidas com terroristas em algo natural, e até lógico, no universo dos personagens. A direção e montagem também trabalham fazendo que o final não soe piegas para um 007, mas sem perder o drama que explica o caráter misógino que o personagem. Até a escolha de tocar a famosa música tema (de Monty Norman) apenas na cena final do filme quando o personagem *realmente* se torna James Bond mostra a que nível de detalhes chegaram os realizadores.
Tudo no filme se encaixa bem.
E é justamente por isso que Quantum of Solace foi um fracasso tão grande. Estava aí um personagem que alguns já haviam dado como ultrapassado, praticamente fadado à auto-paródia mas que havia dado a volta por cima em grande estilo: atualizado, com atuações interessantes, direção acurada e um roteiro muito competente.
Como no segundo filme não havia muitas dessas qualidades a esperança estava depositada no terceiro, Operação Skyfall. Com Sam Mendes (do excelente Estrada para Perdição) como diretor, teoricamente bastava um roteiro inteligente para que o personagem se recuperasse do tropeço.
Infelizmente não foi o que aconteceu e Skyfall não é nem de longe um Casino. Embora a qualidade cinematográfica seja em alguns momentos *impecável* (a cena final a noite é cinema puro) e as cenas de ação competentes e bem orquestradas, o roteiro é simplesmente pavoroso e indigno até de análise aqui.
O vilão é bem atuado (Javier Bardem), mas pessimamente desenvolvido. Parece que quiseram construir um tipo de coringa do universo 007, sem o impacto on screen que uma figura desse tipo necessita. O roteiro nem sequer explorou uma contradição dos dois personagens, afinal, Bond poderia se tornar como Silva no futuro? O que diferencia os dois de verdade? Bond está a serviço da Sua Majestade ou simplesmente de "M"?
Existe uma cena interessante em Casino onde Bond invade a casa de "M" para usar seu computador e, ao mesmo tempo, mostrar suas impecáveis habilidades de espião à sua chefe. A conversa acaba com um sonoro e ameaçador: "Nunca mais invada a minha casa". Aqui a invasão se repete e o roteiro nem sequer faz menção, ou mesmo uma brincadeira, que conecte os dois momentos tão distintos. E lá se foi aquela atenção ao detalhe.
Ah.. o roteiro..
Lembra quando falei que Casino Royale fazia até um jogo de pôquer virar filme? Pois é, Skyfall não consegue o mesmo nem com uma história de vingança.
P.S. -> Ponto positivo para a canção tema de Adele. Vale a pena escutá-la lendo o post.
PG, cheguei no seu (bem elaborado) blog através de um comentario seu no Acerto de Contas e vi seu comentario sobre 007 e Skyfall. Não sou cinefilo, mas curto um bom filme.
ResponderExcluirAchei uma boa Craig como 007. Já o assisti em filmes como Reflexos da Inocencia, a refilmagem de Millenium e seu papel em Munique, alem claro dos 3 James Bond.
O Cassino Royale é perfeito. Cenario, roteiro, muito bem feito. O Quantum para mim nem devia ter existido e o Skyfall se perde no roteiro. Começa até bem, mas torna-se um desperdicio e perda de tempo.
Obrigado Anonimo! Revisitei Quantum of Solace após escrever o post e surpreendentemente ele melhorou um pouco.
ResponderExcluirNão é propriamente um filme de James Bond (talvez seja esse o maior criticismo) mas como filme de ação é competente.