domingo, 30 de setembro de 2007

Osso duro de roer

Dizem que a melhor propaganda é a boca-a-boca. E como não sou nenhum santo, sucumbi à tentação (e curiosidade) de assistir o filme brasileiro do momento: BOPE - Tropa de Elite. Que antes mesmo de lançado, já é hit em todo camelô que se preze.

Confesso que, mesmo com toda essa falação, eu não esperava muito do filme em si. Já tinha ouvido falar da boa produção e das boas atuações, mas minha grande preocupação era o roteiro. Filmes policiais tupiniquins tendem a ser um tanto maniqueístas: o bem e o mal existem apenas em si mesmos. Em Cidade de Deus - o filme brasileiro quintessencial - Dadinho (Zé Pequeno) é um psicopata nato e tudo de ruim gira em torno dele. Embora seja um dos meus filmes preferidos (de todos os tempos), esse sempre foi um ponto fraco que o impedia de ser o filme "perfeito".

Que surpresa minha ao constatar que Tropa de Elite trata a questão por um prisma diferente. Os personagens não são tão bem explorados, e as vezes até sub-aproveitados. Mas enquanto a história de Cidade de Deus tratava de pessoas, Tropa prefere falar do sistema que as envolvem, corrompem e transformam. A meia-miopia com que o diretor trata 90% do elenco passa uma mensagem até bem clara: As pessoas são meros recursos para o sistema, e ele se alimenta delas. Como matéria-prima, pessoas são sugadas, processadas e expelidas. Justamente por isso elas não tem importância, e o filme faz questão de frisar isso. Outra característica marcante é a quase ausência de paisagens cariocas, alias a maior paisagem aqui é a própria favela, fotografada com um realismo de documentário.

Também me alertaram para o tom "moralista" como é tratada a questão do tráfico no rio. Não sei se é moralista, mas é revigorante ver um filme colocar no cidadão a parte da culpa pela podridão de seu sistema. Seja o usuário de drogas "recreativo", a classe alta hipócrita, os relativistas de ONG, os estudantes esquerdistas, os políticos sem escrúpulos ou até mesmo os favelados inertes, todos têm expostas culpas que nossa sociedade fez questão de esquecer.

P.S.-> Se você, como eu, não conseguiu resistir à tentação e quer ver o filme antes de estrear no cinema então também faça como eu e prefira baixá-lo na internet. O camelô não paga imposto, mas deve pagar propina.

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